Apresentação

Esse espaço foi pensado para ser uma extensão das aulas presenciais e um fórum de debate permanente para você se expressar livremente. Fique à vontade para contribuir na construção do conhecimento da história ou de outras nuvens!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FÓRUM - INTRODUÇÃO À HISTÓRIA



QUESTÃO:

APÓS  A LEITURA DA ENTREVISTA ABAIXO, COMENTE:

 COMO VOCÊ ENTENDE A IMPORTÂNCIA DO TEMPO PRESENTE PARA O TRABALHO DO HISTORIADOR? 

P.S: Todas as turmas podem participar!

fonte:http://moglobo.globo.com/blogs/blog.asp?blg=prosa&cod_post=186814

Peter Burke: 'O passado é um país estrangeiro'

Livros como "Uma história social do conhecimento" e "O renascimento italiano" fizeram do inglês Peter Burke um dos mais respeitados historiadores contemporâneos. Conhecido por seus estudos sobre a cultura na Era Moderna, Burke é também um importante teórico da atividade historiográfica. Em obras como "A escrita da História", ele discutiu os limites e possibilidades de sua profissão, e propôs pontos de contato entre a escrita histórica e a literária. "Cada geração, vivendo com os problemas do presente, interroga o passado pensando em suas próprias questões. Por isso é importante reescrever a história a cada geração", diz ele nesta entrevista, concedida no final do ano passado durante o seminário Comunicação e História, realizado pela Escola de Comunicação da UFRJ com apoio do Globo Universidade*.
Nos anos 1990, você escreveu que já não havia um consenso a respeito do que constituía uma boa explicação histórica. Algo mudou desde então?

PETER BURKE: Se algo mudou, é que há ainda menos consenso do que antes. Em parte, eu acho, por que se você escreve para audiências diferentes, precisa dar explicações diferentes. Escrever sobre a Revolução Francesa para os franceses é diferente de falar sobre ela para os americanos. Há conjuntos distintos de coisas que podem ser dadas como já sabidas por cada grupo de leitores.

É apenas uma questão de audiências, então, ou há também uma discussão teórica por trás disso?

BURKE: Sim, claro, há a idéia de que não existe uma única explicação fixa, objetiva, para a história. Quando eu estava na escola, meu livro dizia que havia 14 causas para a Revolução Francesa. Hoje todo mundo ri quando digo isso, o que mostra que há um consenso que de que não existe um consenso. Isso não significa que não tentemos verificar as explicações, mas que você nunca para, que sempre há a possibilidade de haver mais explicações.

A Escola dos Anais foi provavelmente a corrente historiográfica mais influente do século XX. Como o senhor avalia seu legado hoje?

BURKE: É difícil. Até o começo dos 1990, eu sentia que a Escola ainda tinha alguma unidade, e talvez fosse o grupo de pesquisas fazendo o trabalho histórico mais inovador no mundo. Mais e mais, no entanto, têm ganhado espaço grupos de outros lugares. Hoje, vivemos um momento mais policêntrico. A maior influência das últimas décadas talvez venha dos estudos subalternos iniciados por historiadores da Índia. Não acho que os pesquisadores da Escola dos Anais tenham deixado de inovar, mas foi um grande golpe quando o autor mais original da nova geração da Escola, Bernard Lepetit, morreu num acidente de carro há poucos anos. Hoje, há trabalho muito interessante sendo feito na sede pelos herdeiros da Escola dos Anais, mas nada que saia dos caminhos já traçados por Jacques Le Goff e Roger Chartier.

Que novas linhas de pesquisa o senhor enxerga no diálogo entre a história e as ciências naturais? Existe possibilidade de cooperação entre os historiadores, que estudam o condicionamento cultural do comportamento humano, e os neurologistas, que tentam encontrar seus princípios biológicos?

BURKE: Vai ser difícil. Os historiadores não alegam saber tudo sobre seres humanos, e claro que há espaço para a investigação neurológica, mas quanto mais se fala sobre aquilo que não muda, menos espaço existe para o estudo das mudanças, de que os historiadores se ocupam. Na minha opinião, se há uma área onde veremos mais colaboração nos próximos anos será na história do meio ambiente, porque ele só pode ser estudado interdisciplinarmente, e nesse caso a mudança é um elemento fundamental.

Em momentos de crise, como o atual, há sempre uma tentativa de se recorrer às "lições da história". Pensando na era moderna, a que o senhor tem se dedicado, saberia dizer afinal que lições são essas?

BURKE: Nada que se possa facilmente reunir num conjunto de proposições. Mas se você estuda o passado, desenvolve essa sensibilidade à diversidade humana. Ela pode ser útil para orientar nossa ação política. Um dos problemas de hoje é que a maioria dos líderes políticos não percebem o quão diversamente as pessoas pensam e se comportam. Por isso sua política externa é um desastre e, quando o país em questão é uma sociedade multicultural, sua política doméstica também.

Inversamente, de que maneira o presente nos ajuda a entender a reflexão histórica? O senhor poderia falar sobre a historicidade do trabalho do historiador?

BURKE: Nos ajuda a entender algumas coisas e impede que entendamos outras. Por isso é importante reescrever a história a cada geração. Cada geração, vivendo com os problemas do presente, interroga o passado pensando em suas próprias questões. Quando houve a grande inflação nos anos 1920, as pessoas começaram a história dos preços, quando houve ansiedade sobre explosão populacional nos anos 1950, começou a história demográfica, agora a história do meio ambiente está decolando. Mas ao mesmo tempo que usamos o presente para formular perguntas, temos que deixar o passado dar suas próprias respostas.

Até que ponto o historiador pode escapar de seu tempo?

BURKE: Eu acredito, e para alguns isso talvez seja uma heresia, que há um lugar para o anacronismo quando se escreve a história. Você tem que fazer comparações com o presente para que as pessoas entendam o passado. Tem que ficar lembrando o leitor que o passado não é como o presente, que é um país estrangeiro, mas ele precisa entender por que as pessoas agiam daquela maneira. E às vezes pode ser útil fazer um paralelo com algum movimento moderno pode ser útil. Quando era estudante, as pessoas gostavam de fazer comparações entre os calvinistas e os comunistas. Hoje, essa não é mais uma explicação muito útil. Mas o historiador escreve para o seu tempo, consciente de que uma próxima geração vai fazer seu trabalho de outra maneira.

O senhor disse uma vez que alguns procedimentos narrativas da literatura do século XX poderiam ser úteis à escrita da história, e que no entanto os historiadores em sua maioria continuavam presos a um modelo narrativo do século XIX. Como está a situação hoje?

BURKE: O movimento existe, mas é relativamente pequeno. Talvez os antropólogos estejam abertos há mais tempo do que os historiadores para a idéia de experimentos narrativos. Eu diria que vamos ver mais disso nos próximos anos. O crucial, eu acho, é que não se trata  simplesmente de fazer isso porque Proust fez, mas porque nos ajuda a fazer o que desejamos fazer. O ponto de vista múltiplo, por exemplo, é absolutamente crucial. Os historiadores costumavam narrar de um ponto de vista fixo e hoje percebemos que você não pode tornar os conflitos inteligíveis a não ser que ache espaço para todas as vozes envolvidas. Por isso acho é bom que os historiadores leiam Mikhail Bakhtin e pensem sobre polifonia, diálogo, e é bom que leiam romances como "Ponto e contraponto", de Aldous Huxley, ou "O som e a fúria", de William Faulkner.

E qual a importância da Internet hoje para o trabalho do historiador?

BURKE: Ela é importante no momento principalmente para a consulta de informações. Se esqueço por exemplo quando Charles Dickens nasceu, posso consultar a data no Google, ou na Wikipedia, em vez de ir até minha estante. A Wikipedia é muito interessante, não apenas por seu volume de informação, mas também por ser uma empreitada coletiva, o que acho que é único na história das enciclopédias. Claro que isso gera problemas, porque há colaboradores que não sabem tanto de história, ou usam as fontes de modo não-crítico, ou têm fortes preconceitos - coisas que também acontecem em livros - mas num segundo momento eles estão se organizando para cuidar desses problemas. Você abre um verbete e há avisos sobre a necessidade de de rever alguns pontos do artigo, ou de fornecer referências para uma afirmação. Eles estão se tornando mais acadêmicos. Mas, enfim, a Internet hoje é útil para checar informações, pois ainda é ínfimo o percentual de fontes históricas disponíveis online. Esse é um trabalho que vai levar tempo. Eu costumava trabalhar com os arquivos italianos. Em apenas uma cidade da Itália, Veneza, há quilômetros de artigos sobre o século XVII. Quem terá tempo e dinheiro para botar isso na internet. E quanto tempo vai levar?

Qual sua próxima pesquisa?

BURKE: Tenho duas ou três idéias sobre o que fazer a seguir, mas o mais provável é que eu escreva uma continução de “História social do conhecimento”. Eu terminei o livro no meio do século XVIII e depois pensei que isso era um pouco de covardia. Eu me interessei pelo tema por que vivemos numa sociedade do conhecimento, então por que parar tão longe? Estou pensando num segundo volume, em vez de Gutemberg a Diderot, da Enciclopédia à Wikipedia, algo assim.

*entrevista concedida ao GLOBO e ao Globo Universidade

10 comentários:

  1. Historia, algo que desperta muito a minha curiosidade mas, por outro lado me deixa muito confuso nas suas explicações. Mas é muito legal ver esses confrontamentos de ideias ver o passado explicar o presente.

    Cristiano silva 1°Periodo de Ciências Humans

    ResponderExcluir
  2. A história é algo fascinante, que vem de forma surpreendente e nos leva a questionar todas as coisas sobre nossa existência e culturas do passado entre outras. Mesmo que às vezes pareça não ser útil ou às vezes complicado de entender, gostamos de sempre ouvir uma boa história e querer saber o motivo e circunstâncias dos acontecimentos.
    O nosso tempo presente é de extrema importância, pois desse ponto vamos questionas varias coisas do tipo: por que as coisas são assim? Porque acontece assim? São vários porquês que nos leva a busca respostas, assim precisando entrar no passado para poder responder tais questões.


    Railan medrado 1°Periodo de Ciências Humanas

    ResponderExcluir
  3. Afirmar que o passado é um país estrangeiro é admitir que o enxergamos pela ótica anacrônica. Mas, será que um dia estudaremos a história sem sucumbir no anacronismo? Creio que não. Somos sempre de outro tempo olhando para o fato histórico. Ainda quando falamos da história imediata, essa mesma ainda foge de nossas mãos supostamente limpas do anacronismo. Somos anacrônicos, mas não somos detentores das verdades do passado. O passado é que libera suas próprias repostas/verdades. Ele mesmo o diz e nós acolhemos da melhor maneira, sem impregnar ao passado nossas pré-noções. O tempo presente nos ajuda a considerar as mudanças, estamos sempre atrás delas, é quase automático. Considerá-las nos ensina uma tarefa difícil, porém importante: enxergar as diferenças do passado pensando nas soluções para problemas emergentes. É um estar alerta. O presente nos ajuda a entender a reflexão histórica, portanto, nos ajuda a entender algumas coisas, mas nos impede que entendamos outras, ora, nos apegamos ao presente e nos perdemos do passado e vice-versa; são tempos diferentes, é preciso, na certa, não perder o equilíbrio das coisas, não exagerar na medida, é preciso tomar cuidados. Por isso o autor enfatiza que é importante reescrever a história a cada geração, pois, cada geração, vivendo com os problemas do presente, interroga o passado pensando em suas próprias questões. O Historiador nos dá uma dica importante, nos diz que há menos consenso do que antes para uma boa explicação histórica, afinal, ter um consenso é ter apenas uma resposta. E não estamos buscando apenas uma resposta “cristalizada”, mas as várias explicações possíveis no processo histórico. E se existe pluralidade de pessoas, existem também relevâncias específicas para cada público, que por ser diferente, espera respostas condizentes. Não caberá nesse universo plural apenas uma resposta, apenas um consenso. O autor declara que quando estudamos o passado aguçamos a nossa sensibilidade para compreender a pluralidade humana, assim, poderemos melhor orientar nossos posicionamentos políticos. É profícuo pensar assim. Quando lhe perguntam sobre que áreas podem colaborar com a história ele se inclina à história do meio ambiente, pois esta é difusa, é de interesse de todos, e portando é interdisciplinar, conversa com várias áreas e considera as mudanças, e considerar as mudanças é crucial nesse universo multicultural.

    TAMIRES MORAIS 5ºPERÍODO DE CIÊNCIAS HUMANAS

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. MUITO BOM TAMIRES!!! GOSTEI DEMAIS DE SUA PARTICIPAÇÃO!!! VALEU POR SUA CONTRIBUIÇÃO MAIS AMADURECIDA... UM ABRAÇO!!

      Excluir
    2. Eu que agradeço professor! Um abraço.

      Excluir
  4. É preciso focar o presente e passado e as gerações possam reescrever sua história.Como o autor BURKE fala:Mas ao mesmo tempo que usamos o presente para formular perguntas,temos que deixar o passado dar suas próprias respostas.Os historiadores escrevem para o seu tempo para que os novos historiadores possam fazer seu trabalho de uma nova maneira para as futuras gerações.
    Elisangela 1ºperiodo Ciências Humanas

    ResponderExcluir
  5. No primeiro momento BURKE discute o problema da parcilidade e como as gerações observam o processo histórico, já que a cada indivíduo é afetado de alguma forma pela cosmo visão de seu tempo. Entendo que o aumento "audiências diferentes" se deve ao turbilhão de interesses que cada dia se fragmentam no tempo e, confusos, resultam em uma ação política fracassada, pois a relação de alteridade é míope, principalmente entre os líderes políticos. Continua dizendo que é importante escrever a história a cada geração, mas que podemos usar os elementos do passado no intuito dar interpretações sem incorrer em equívocos de análise. No entando as multi-vozes podem trazer problemas de preconceitos e conhecimentos superficiais.

    Pessoalmente, acredito que olhar para as "lições do passado" como anacronismo é desdenhar de nossa capacidade de cometer erros. Os "avanços" da sociedade, por vezes, não passam de ilusões disfarçadas de progresso. Assim as novas formas de organizações sociais seguem feito jovens rebeldes que discordam do passado, mas são tendenciosas a fazer as mesmas loucuras das juventudes de outrora.

    Epaminonas P. Bonfim
    1ºPeríodo Ciências Humanas

    ResponderExcluir
  6. É muito interessante saber que a historia é contada segundo a visão do historiador e que nem sempre a visão do historiador é a que realmente corresponde aos fatos; então cabe a cada um de nós refletir e analisar e assim tirar as nossas proprias conclusões.
    seguindo o raciocinio de burke, tambem acho que a historia nos ajuda a enteder algumas coisas mas tambem nos impede de compreender outras, por isso ela deve se renovar a cada geração, e quando a historia fica proxima da nossa realidade entedemos ela de forma mais facil e dinâmica.

    ANDREZA GOMES RODRIGUES 1°PERIODO CIÊNCIAS HUMANAS

    ResponderExcluir
  7. Vivendo a história presente somos influidos a pensar como era no passado? O historiador tem sempre algo a perguntar, nunca fica só no imaginário, isso o faz capaz de destrancar velhos baús só para saber o passado
    Acaba descobrindo tantas coisas interessantes que ilumina a curiosidade de todos que amam história.
    Suely Costa MOura- 5º Periodo

    ResponderExcluir
  8. temos como objeto nas mãos o presente, recorremos ao passado pra entender que processos se deram para que chegasse ao hoje. nesse facínio dessa busca ele descobre elementos equivocados. fica claro que essa importancia de reescrever a historia traz consigo as visoes do momento pra historia e ela mudará e muito conforme a continuidade do tempo. o tempo presente é fundamental,serve como a base do que se tem em comparação do que possivelmente ocorreu no passado.
    joão Paulo Alvim 1° p. ciências humanas

    ResponderExcluir